O livro não vai acabar

16/05/2010 18:09

Transcrição da entrevista com João Alegria publicada no blog da Bienal de Minas. 

Em tempos de aquecimento global e convergência de mídias, é fácil presumir que os livros estão com seus dias contados. Mas João Alegria, autor do livro “Come-come. Pais e filhos na cozinha”, que participou hoje da Arena Jovem, em um debate com o ator Max Fercondini sobre o tema redes sociais, não concorda. Para ele, o livro deverá conviver pacificamente com as novas mídias por muito e muito tempo ainda.
 
Em uma Bienal do Livro, onde o incentivo à leitura física é destaque, é quase impossível não levantar o debate acerca da possível substituição do livro físico pelo e-book. Como você vê essa questão? 
Bom, primeiro não vejo isso como uma ameaça. O livro físico é uma coisa muito bem inventada. Não sou daqueles que acha que ele vai acabar por disputa com a mídia virtual. Mas estamos indo em uma direção com tantas novas “formas de vida” para o livro, que o custo financeiro e ambiental da sua produção pode levá-lo a não resistir.

Como você vê essa disputa entre as mídias mais tradicionais e o domínio crescente das mídias virtuais?
Eu acho que as tecnologias e mídias podem conviver. Elas não precisam disputar. Tem espaço para todos e o ideal é que elas se complementem como opções de canais de comunicação e interação.
 
Ainda existem muitos autores resistentes à publicação do livro eletrônico. Você acha que ele é prejudicial para o autor?
De jeito nenhum. Pelo contrário, ele oferece mais um canal de vendas e fornecimento dos livros. O autor, hoje, precisa considerar que a quantidade de locais especializados em vendas de livros é muito pequena e numa distribuição de comodato, que tem sido a mais comum, o resultado pode não ser satisfatório, causando prejuízos à tiragem impressa.
 
Como a indústria editorial está reagindo à comercialização de livros eletrônicos? 
Eu acho que a indústria editorial tem que se perguntar se o processo, hoje, como está, é sustentável. Porque a questão não é só a economia do papel. A indústria de celulose também se utiliza de água e muito. Do jeito que estamos caminhando para uma possível racionalização do uso da água, pode chegar um momento em que em vez de simplesmente se criar novos canais de comercialização, essa indústria seja obrigada a repensar a viabilidade desse produto num novo mercado editorial.
 
E a questão da pirataria? O crescimento da disponibilização de livros e arquivos documentais ou fotográficos em sites de relacionamento e downloads grátis prejudica escritores e autores? 
Eu acho que tudo depende do bom senso em publicar e baixar arquivos autorizados. Existem opções de softwares e freewares que liberam qualquer internauta de recorrer à pirataria. O site domínio público do governo federal é um exemplo, infelizmente ainda muito pouco acessado.
 
Algumas pessoas utilizam o argumento da democratização da informação para defender a pirataria. Como você vê essa questão? 
Acho um grande equívoco. Nada justifica a pirataria. Democratizar a informação é fornecer ao usuário softwares livres e conteúdos gratuitos, o que tem demais na internet. É só procurar. Optar pelo conteúdo não autorizado é como optar por piratear para vestir uma roupa de marca, pois é possível adquirir um conteúdo de qualidade, autorizado, mas que, nem sempre, é o mais famoso ou mais propagandeado.

Perfil
João Alegria é gerente de Programação, Jornalismo e Engenharia do Canal Futura da Fundação Roberto Marinho, membro do Grupo de Pesquisa Educação e Mídia – GRUPEM e professor de Especialização em Mídia, Tecnologia da Informação e Novas Práticas Educacionais. 

 

 

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