Traga seu equipamento para a sala de aula

16/04/2019 19:50
Viver no mundo contemporâneo traz uma nova experiência, que é a da imersão operacional e narrativa. O ambiente doméstico e o profissional estão densamente povoados por aparelhos que facilitam as tarefas em casa e no trabalho, mas criam rotinas novas, como colocar o telefone celular para carregar, comprar baterias para os controles remotos, lembrar-se de ligar ou desligar as máquinas.
A essa presença intensiva de aparatos e tecnologias eletro-eletrônicas no cotidiano, denomino “densidade tecnológica”. Claro que dá para imaginar inclusive um índice para a densidade tecnológica, se nos damos conta que há ambientes mais impregnados que outros com equipamentos e tecnologias. Portanto, determinados espaços têm maior ou menor densidade tecnológica, dependendo de uma relação direta com a quantidade de equipamentos e tecnologias neles presentes.
Tendo isso em mente até podemos imaginar a sala de aula como um ambiente de baixa densidade tecnológica. Será? Talvez não dê para fazer esse tipo de aposta sem antes verificar. É o que todo educador deveria fazer antes de desenvolver um projeto pedagógico com o uso de tecnologias em sala de aula: verificar qual o índice de densidade tecnológica de sua turma de alunos. Depois fica mais fácil fazer escolhas sobre quais recursos tecnológicos são os mais adequados no trabalho pedagógico com o grupo.
O modo mais fácil de aferir a densidade tecnológica é usar um instrumento de pesquisa (questionário), aplicado individualmente a todos os estudantes. Elabore perguntas sobre se cada um conhece, possui e está habituado a utilizar as tecnologias e equipamentos mais comuns atualmente. Todos têm televisor, rádio, DVD player, smartphone? Todos sabem acessar e utilizar a internet? Possuem computador em casa, acesso à web? Quais são os hábitos de consumo de mídia? Assistem à TV, apenas vídeos na internet, leem jornais e revistas? Quanto mais extensa e detalhada a lista, maiores serão as possibilidades de trabalho do professor e de transformação da sala de aula num lugar mais interessante e ajustado com a realidade dos estudantes.
Com esse tipo de informação prévia, o professor pode ganhar tempo, evitando ter que introduzir os estudantes a tecnologias e processos aos quais eles não estão habituados. Isso também é importante, mas pode ser um fator de frustração, quando antes de ter experiências concretas e de vivenciar aulas mais interessantes, os estudantes tenham de passar por um longo processo de aquisição de conhecimento operacional sobre alguma tecnologia nova para eles.
Pensando de forma similar é que surgiu uma das tendências contemporâneas de renovação da sala de aula, conhecida como BYOD - Bring Your Own Device (traga seu próprio dispositivo), às vezes chamada de BYOT - Bring Your Own Technology (traga sua própria tecnologia). Nos ambientes profissionais e educacionais que praticam essa política, os estudantes e professores podem levar seus notebooks, tablets, smartphones e outros, para utilizar nas atividades educativas. Essa tendência começou pelas empresas, mas chegou também às escolas.
Há muitas vantagens em adotar essa política de trabalho, principalmente pelo fato de o projeto pedagógico já poder contar com a fluência dos estudantes e professores nas linguagens relativas às tecnologias e equipamentos com os quais eles já estão familiarizados. Note que apesar de esse caminho permitir uma racionalização de custos no investimento em infraestrutura tecnológica nas escolas, ele não exime os gestores de fazerem os investimentos para que todos possam, em condição de equidade de acesso, ter o suporte necessário para participar de todas as atividades previstas com o uso de recursos tecnológicos, mesmo daquelas para as quais não possuem equipamentos próprios.
É provável que a maior parte das sondagens de densidade tecnológica, atualmente, identifiquem o smartphone - aparelho de telefone celular com recursos tecnológicos convergentes, tais como máquina fotográfica, filmadora e acesso à internet - como o equipamento mais presente em sala de aula. Sua mobilidade e portabilidade, associadas às várias funcionalidades computacionais que o smartphone integra, o transformaram num dispositivo sempre presente na vida contemporânea. Suas características e recursos fazem dele uma das maiores promessas para a transformação da experiência de ensinar e aprender. Mas em geral, o smartphone é tratado como uma ameaça à escola e à educação e não como um recurso educacional.
Em vários Estados brasileiros vêm sendo aprovadas leis que regulamentam, restringem ou proíbem o uso do aparelho na escola. É o caso do Estado de Pernambuco, cuja Lei 15.507 foi sancionada em maio de 2015. O texto “Regulamenta a utilização de aparelhos celulares e equipamentos eletrônicos nas salas de aulas, bibliotecas e outros espaços de estudos das instituições de ensino públicas e particulares localizadas no Estado de Pernambuco”. 
Em seu Artigo Primeiro o texto legal faz saber que “fica proibido o uso de aparelhos celulares e equipamentos eletrônicos nos estabelecimentos de ensino públicos ou privados, no âmbito do Estado de Pernambuco”, para logo a seguir abrir uma pequena exceção no primeiro parágrafo: “exceto com prévia autorização para aplicações pedagógicas”. O Artigo Segundo chega a ser ainda mais revelador sobre as motivações da Lei, ao incluir que os gestores escolares são responsáveis por: “adotar medidas que visem à conscientização dos alunos sobre a interferência do telefone celular nas práticas educativas, prejudicando seu aprendizado e sua socialização”.
É especialmente curioso a menção genérica que também se faz a “equipamentos eletrônicos” no texto legal, sem os especificar, o que retira das escolas todos os recursos tecnológicos contemporâneos que são necessários a uma boa educação, como os computadores, para citar só um. O texto também não detalha nada os processos de autorização prévia para o uso pedagógico de tais recursos. Quais seriam os usos autorizados? Por fim, fica claramente expressa a percepção que o smartphone é um recurso tecnológico furtivo, fora de controle e, portanto, deve ser desligado para não atrapalhar na educação.
Mesmo considerando os desafios inerentes ao uso de tal equipamento no espaço escolar, os riscos que ele representa, sua negação é o pior caminho e afasta a escola do mundo e da vida de professores e estudantes, tornando-a ainda mais extemporânea. Entenda: já estando nos bolsos e nas bolsas de todos, o smartphone é um recurso inestimável para a educação e pode ser integrado com sucesso aos projetos pedagógicos.
Viver no mundo contemporâneo traz uma nova experiência, que é a da imersão operacional e narrativa. O ambiente doméstico e o profissional estão densamente povoados por aparelhos que facilitam as tarefas em casa e no trabalho, mas criam rotinas novas, como colocar o telefone celular para carregar, comprar baterias para os controles remotos, lembrar-se de ligar ou desligar as máquinas.
 
A essa presença intensiva de aparatos e tecnologias eletro-eletrônicas no cotidiano, denomino “densidade tecnológica”. Claro que dá para imaginar inclusive um índice para a densidade tecnológica, se nos damos conta que há ambientes mais impregnados que outros com equipamentos e tecnologias. Portanto, determinados espaços têm maior ou menor densidade tecnológica, dependendo de uma relação direta com a quantidade de equipamentos e tecnologias neles presentes.
 
Tendo isso em mente até podemos imaginar a sala de aula como um ambiente de baixa densidade tecnológica. Será? Talvez não dê para fazer esse tipo de aposta sem antes verificar. É o que todo educador deveria fazer antes de desenvolver um projeto pedagógico com o uso de tecnologias em sala de aula: verificar qual o índice de densidade tecnológica de sua turma de alunos. Depois fica mais fácil fazer escolhas sobre quais recursos tecnológicos são os mais adequados no trabalho pedagógico com o grupo.
 
O modo mais fácil de aferir a densidade tecnológica é usar um instrumento de pesquisa (questionário), aplicado individualmente a todos os estudantes. Elabore perguntas sobre se cada um conhece, possui e está habituado a utilizar as tecnologias e equipamentos mais comuns atualmente. Todos têm televisor, rádio, DVD player, smartphone? Todos sabem acessar e utilizar a internet? Possuem computador em casa, acesso à web? Quais são os hábitos de consumo de mídia? Assistem à TV, apenas vídeos na internet, leem jornais e revistas? Quanto mais extensa e detalhada a lista, maiores serão as possibilidades de trabalho do professor e de transformação da sala de aula num lugar mais interessante e ajustado com a realidade dos estudantes.
Com esse tipo de informação prévia, o professor pode ganhar tempo, evitando ter que introduzir os estudantes a tecnologias e processos aos quais eles não estão habituados. Isso também é importante, mas pode ser um fator de frustração, quando antes de ter experiências concretas e de vivenciar aulas mais interessantes, os estudantes tenham de passar por um longo processo de aquisição de conhecimento operacional sobre alguma tecnologia nova para eles.
 
Pensando de forma similar é que surgiu uma das tendências contemporâneas de renovação da sala de aula, conhecida como BYOD - Bring Your Own Device (traga seu próprio dispositivo), às vezes chamada de BYOT - Bring Your Own Technology (traga sua própria tecnologia). Nos ambientes profissionais e educacionais que praticam essa política, os estudantes e professores podem levar seus notebooks, tablets, smartphones e outros, para utilizar nas atividades educativas. Essa tendência começou pelas empresas, mas chegou também às escolas.
 
Há muitas vantagens em adotar essa política de trabalho, principalmente pelo fato de o projeto pedagógico já poder contar com a fluência dos estudantes e professores nas linguagens relativas às tecnologias e equipamentos com os quais eles já estão familiarizados. Note que apesar de esse caminho permitir uma racionalização de custos no investimento em infraestrutura tecnológica nas escolas, ele não exime os gestores de fazerem os investimentos para que todos possam, em condição de equidade de acesso, ter o suporte necessário para participar de todas as atividades previstas com o uso de recursos tecnológicos, mesmo daquelas para as quais não possuem equipamentos próprios.
 
É provável que a maior parte das sondagens de densidade tecnológica, atualmente, identifiquem o smartphone - aparelho de telefone celular com recursos tecnológicos convergentes, tais como máquina fotográfica, filmadora e acesso à internet - como o equipamento mais presente em sala de aula. Sua mobilidade e portabilidade, associadas às várias funcionalidades computacionais que o smartphone integra, o transformaram num dispositivo sempre presente na vida contemporânea. Suas características e recursos fazem dele uma das maiores promessas para a transformação da experiência de ensinar e aprender. Mas em geral, o smartphone é tratado como uma ameaça à escola e à educação e não como um recurso educacional.
 
Em vários Estados brasileiros vêm sendo aprovadas leis que regulamentam, restringem ou proíbem o uso do aparelho na escola. É o caso do Estado de Pernambuco, cuja Lei 15.507 foi sancionada em maio de 2015. O texto “Regulamenta a utilização de aparelhos celulares e equipamentos eletrônicos nas salas de aulas, bibliotecas e outros espaços de estudos das instituições de ensino públicas e particulares localizadas no Estado de Pernambuco”. 
 
Em seu Artigo Primeiro o texto legal faz saber que “fica proibido o uso de aparelhos celulares e equipamentos eletrônicos nos estabelecimentos de ensino públicos ou privados, no âmbito do Estado de Pernambuco”, para logo a seguir abrir uma pequena exceção no primeiro parágrafo: “exceto com prévia autorização para aplicações pedagógicas”. O Artigo Segundo chega a ser ainda mais revelador sobre as motivações da Lei, ao incluir que os gestores escolares são responsáveis por: “adotar medidas que visem à conscientização dos alunos sobre a interferência do telefone celular nas práticas educativas, prejudicando seu aprendizado e sua socialização”.
 
É especialmente curioso a menção genérica que também se faz a “equipamentos eletrônicos” no texto legal, sem os especificar, o que retira das escolas todos os recursos tecnológicos contemporâneos que são necessários a uma boa educação, como os computadores, para citar só um. O texto também não detalha nada os processos de autorização prévia para o uso pedagógico de tais recursos. Quais seriam os usos autorizados? Por fim, fica claramente expressa a percepção que o smartphone é um recurso tecnológico furtivo, fora de controle e, portanto, deve ser desligado para não atrapalhar na educação.
 
Mesmo considerando os desafios inerentes ao uso de tal equipamento no espaço escolar, os riscos que ele representa, sua negação é o pior caminho e afasta a escola do mundo e da vida de professores e estudantes, tornando-a ainda mais extemporânea. Entenda: já estando nos bolsos e nas bolsas de todos, o smartphone é um recurso inestimável para a educação e pode ser integrado com sucesso aos projetos pedagógicos.
 

 

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