Uma floresta em pé e cheia de gente
O Festival do Rio representa um enorme desafio para quem gosta de cinema, pois é humanamente impossível acompanhar todas as sessões de interesse. São muitos filmes bons sendo exibidos pelos quatro cantos da cidade. Entre uma escolha e outra, fui conferir na tela grande o documentário Amazônia Eterna, dirigido por Belisário Franca.
Daria para falar sobre o filme a partir de várias perspectivas. Escolhi dar mais peso para o que mais me chamou a atenção, que é a defesa corajosa e consistente que a Amazônia mais resistente será a floresta em pé e cheia de gente. Sim, a floresta não é um vazio de gentes. Só advogam a versão da imensidão despovoada os que só a compreendem muito superficialmente, como uma barreira ao desenvolvimento. Há uma enorme biodiversidade que habita a Amazônia, inclusive humana.
Tudo o que deu mais certo por lá foi o que entendeu a floresta em pé como a mais produtiva. Há vários casos interessantes no documentário. E muitas histórias também de gente que destruiu o suficiente para entender que a floresta derrubada, transformada em clareira de savana, não leva a nada. É o que nos dizem pecuaristas, industriais e proprietários de monoculturas.
O filme é de uma beleza desconcertante. Com a liderança de Gustavo Hadba, a equipe de fotografia e direção parece ter se divertido muito inventando planos, posições de câmera e descobrindo espaços não visitados para xeretar. Tudo muito bem envolvido por uma montagem que valoriza uma narrativa mais cinematográfica, com excelente tratamento de som.
É estranho e diferente ver, no Brasil, um longa documental que não está baseado no corta e cola de trechos de depoimentos. Há espaço para a imagem, para o som, para a trilha, e para uma platéia embevecida que comentava baixinho na sala escura: “que imagem é essa?”, “veja, é o ponto de vista do bicho preguiça”, “ele filmou isso debaixo d’água?”…
A impressão é que o material bruto foi sendo peneirado, peneirado, até que restasse o essencial. Eu não sabia que era possível tratar de questões tão complexas de forma tão simples. O filme vai começando devagar, num timming “de floresta”, de barco a remo, cresce em ritmo quando o debate de idéias exige e depois acalma-se, para um final tranquilo, sem grandes frases de efeito, empurrando a plateia para uma realidade distante e, ao mesmo tempo, muito presente em nossas vidas. Não dá pra assistir e não tomar uma atitude, viver algum tipo de mudança, pequena que seja, em defesa desse enorme patrimônio da humanidade.
Segue um link no YouTube para dar um gostinho…
Amazônia Eterna